Alcy Xavier, artista do abstrato

?É difícil a opção pela arte, essa aventura perigosa e, ao mesmo tempo, audaz de se enfrentar o desconhecido.? É assim que o pintor paranaense – de Paranaguá – Alcy Xavier inicia um depoimento sobre a pessoa do artista. Aos 73 anos, ele utiliza do conceito de Adorno para classificar a própria obra como metacrítica. Cada um dos quadros do pintor, mesmo que ?concretos?, nascem do abstrato. Abstração esta que, dele e para ele, é bastante expressiva.

Xavier começou a pintar aos dez anos. Porém, a arte lhe é contexto de imersão pelo menos desde os três. Se não pelo desenho, pela música do pai Narciso Xavier, escultor e músico. ?Sou um homem simples, que gosta de música. O tempo todo?, completa. No início foram muitos desenhos e retratos da família. Aos poucos vieram outras formas e estudos mais profundos.

?Todos os quadros – em um primeiro momento – são a interpretação da realidade. Porém, em um segundo momento, com a experiência, o pintor percebe que a pintura tem leis próprias, independentes. A busca metafísica é o que faz a base do meu trabalho. Nos vetores da abstração – o que considero um conjunto de impulsos mais ou menos automáticos que constituem formas que se associam a algum aspecto da realidade – descubro sentidos?, expõe.

Carreira do pintor começou no Paraná.

Bastante culto – cultura advinda principalmente de experiências autodidatas, de muita leitura e contatos com diferentes artistas, arte e museus, do Brasil e do mundo – Xavier freqüentou a Escola de Belas Artes, estudou com Guido Viaro e, gravura, com Poty Lazzarotto. A carreira do pintor começou no Paraná, nos anos 1950s, mas durante 30 anos – de 1960 a 1990 – Alcy passou em São Paulo, onde teve influências de muitos e grandes artistas. Essa transferência não foi apenas geográfica, mas também e, principalmente, estética. Essa mudança pode ser percebida tanto no uso das cores, quanto nas formas.

Enquanto em Curitiba, a tendência que guiou Xavier – e demais artistas da época – foi o expressionismo. Um dos representantes desta fase do artista é o especial quadro Gato. ?A Curitiba de 39 a 45 era calma na superfície e convidava todos a uma cinzenta introspeção. Porém os corações e mentes estavam divididos e apavorados com a guerra – como a família de refugiados poloneses que acolhemos em Paranaguá. Nosso grupo de artistas jovens então compreendia e aplicava suas lições sobre o sentido humanista do expressionismo como denúncia da violência e da barbárie?, comenta Xavier no depoimento.

Já em São Paulo, o expressionismo ganhou ?quês? de cubismo e outras escolas. Um dos representantes do final desta época seria o Velhice, de 1989. ?Os primeiros anos passados em São Paulo foram duros. Aliás, nunca houve anos dourados para ninguém. Mas o que desejo dizer, é que durante duas ou quase três décadas, o abstracionismo reinou absoluto, enchendo de manchas informais e planos geométricos frios os quilômetros das bienais. Repentinamente, a moda acabou e os abstratos tiveram que aprender a desenhar. Em 1971, deliberadamente, procurei formar figuras e paisagens com ritmos gráficos sobre fundos simples com passagens tonais e um mínimo de planos?, continua o artista, em texto próprio.

Os quadros mais atuais também têm as singularidades. Xavier os apresenta a O Estado, falando sobre a modernidade. ?A modernidade para mim terminou. Vivemos a implosão da mesma. Os -ismos hoje já não têm mais sentido. Na pós-modernidade procura-se algo novo, que seja fusão de princípios?, pontua. Nesta fase contemporânea, o pintor traz – entre outras representações – muitos arquétipos. ?Essa singularidade é a busca do arquétipo. As minhas figuras temáticas?. Assim ele se refere aos seus Dom Quixote, Dulcinéia, Julieta e, com carinho, a homenagem que ele faz no retrato póstumo da também artista Violeta Franco.

O depoimento do artista, assim como os quadros, gravuras, e outras informações estão disponíveis no site www.alcyxavier.ubbihp.com.br.

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