Impasse

Índios da aldeia urbana de Curitiba não podem estudar

Desde o início do ano escolar, no mês passado, 17 estudantes indígenas da aldeia urbana de Curitiba Kakané Porã enfrentam a falta de transporte para ir até o colégio da rede estadual.

Distante cerca de sete quilômetros da aldeia, apenas dois irmãos adolescentes continuam frequentando as aulas na Escola Estadual Professora Maria Gai Grendel.

Os outros desistiram da longa caminhada diária e esperam em casa a resolução do impasse entre governos estadual e municipal sobre a responsabilidade pelo serviço.

Líderes da aldeia informaram que já procuraram a Secretaria de Estado da Educação (Seed), a Secretaria Municipal de Educação e o Ministério Público do Estado para restabelecer o transporte escolar para as crianças, mas reclamam que permanecem sem respostas.

Outra crítica está na burocracia entre os governos, já que o problema está apenas no transporte das crianças da rede estadual, pois as 30 crianças da rede municipal recebem transporte escolar normalmente.

“Se o ônibus municipal já passa por aqui, porque não podem levar as outras crianças também? É só uma questão de acordo entre a prefeitura e o governo estadual, pois as escolas ficam próximas”, acredita Oswaldo Eustáquio Filho, integrante da organização não-governamental Aldeia Brasil.

Outras cinco crianças conseguiram transferência para uma outra escola mais perto, segundo conta um dos líderes da aldeia, Alcino de Almeida. “Mas não conseguimos vagas para todos, apenas para aqueles que estão cursando a quinta e a oitava séries”, diz.

A competência do transporte das crianças da rede estadual é do governo do Estado. Em alguns casos, existe um convênio entre o Estado e o município para que a prefeitura faça o transporte dos alunos da rede estadual, o que ainda não existe para as crianças da aldeia urbana, conforme informou a prefeitura. Até agora não foi feito nenhum pedido formal para oficializar o convênio.

A Superintendência de Desenvolvimento Educacional da Seed, responsável por resolver a questão, informou que só vai se pronunciar sobre o assunto amanhã. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Seed informou que está em negociação com a prefeitura de Curitiba para resolver o impasse.

Escola indígena

Além do transporte escolar, outra reivindicação dos índios caingangues, guaranis e xetás é a instalação de uma escola bilíngue dentro da aldeia urbana, a exemplo do que acontece em outras aldeias.

Existem também projetos de sustentabilidade para a aldeia urbana, que foi implantada no ano passado. Entre eles, está o projeto da ecofábrica para produção de brindes ecológicos e auxílio na renda. Hoje, alguns indígenas trabalham na construção civil e outros do artesanato próprio, que é vendido no Largo da Ordem.