O segredo da Casa Underberg

Essa é uma das histórias mais bonitas da vida brasileira, e que poucos conhecem. O que todos conhecem é o aperitivo Underberg (composto de ervas aromáticas, álcool, açúcar, água e corante), que agora mudou de nome: Brasilberg. Por trás da tradicional garrafa de formato e rótulo inconfundíveis, a bela história.

A bebida mudou de nome, mas a garrafa escura e de longo gargalo continua a mesma. Mudaram os rótulos, com destaque para o novo nome, com novas informações. Principalmente no rótulo secundário, onde a história oficial da Casa Underberg é assim contada:

“Em 17 de junho de 1846, Hubert Underberg fundou a empresa H. Underberg-Albrecht em Rheinberg, na Alemanha, dando início à fabricação e venda do Underberg, uma especialidade feita com ervas aromáticas. No ano de 1884, Hubert Underberg começou a exportar o seu produto para o Brasil.”

“Em 1932, o neto do fundador, o Dr. Paul Underberg, mudou-se para o Brasil e começou a fabricar o “Underberg do Brasil”. Esse produto, fabricado no Brasil com ervas brasileiras, tornou-se, com o passar das décadas, uma especialidade original brasileira e ostenta, doravante, o nome Brasilberg da Casa Underberg do Brasil.”

“Pensando no consumidor, Emil Underberg (I.), irmão do Dr. Paul Underberg, desenvolveu a embalagem ideal: a garrafinha com uma dose de Underberg. Agora, o original Underberg da Alemanha também pode ser obtido no Brasil no pequeno frasco original de 0,21, assim como em mais de cem países no mundo.”

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A história que pouquíssimos conhecem, das mais bonitas, me foi contada há muitos anos por um caro amigo que, até se aposentar, foi revendedor do Underberg em todo o Estado de Santa Catarina. Do que sei da história, é o seguinte.

Talvez pressentindo tempos terríveis na Europa, os irmãos Paul e Emil Underberg vieram para a América do Sul. O Brasil ficou para Paul. Emil ficou com a Argentina. Empresas diferentes, administrações diferentes, em comum apenas o segredo das ervas. A fórmula inventada pelo avô Hubert.

No Brasil, entre os imigrantes alemães, o aperitivo com Underberg era ritual diário, logo assimilado pelos brasileiros. Na velha fábrica do Rio de Janeiro, Paul Underberg e a esposa tinham uma sala onde ninguém entrava, um santuário guardado a sete chaves. Ali Paul misturava as ervas, o segredo da família Underberg.

Muito católicos, Paul e “frau” Underberg nunca tiveram filhos. Em compensação, adotaram no Rio de Janeiro uma congregação de freiras. Eram os provedores que nunca faltavam à missa diária, muito menos deixavam faltar seus generosos dízimos.

Quando Paul morreu, as freirinhas choraram com a viúva, única herdeira da indústria e única portadora da chave da sala das ervas, o segredo da Casa Underberg.

Como toda história de amor, a “frau” não resistiu e, logo em seguida, também se foi. Em busca de Paul. As freiras choraram, e muito, os funcionários choraram, mas quem entrou em desespero foi a administração da fábrica, que se perguntava nos corredores: quem ficou com a chave da sala das ervas, o segredo da Casa Underberg? Alguém saberia quais eram as proporções, com quais e com quantas ervas se fazia a bebida? Ninguém sabia.

Os diretores da fábrica não faziam mais outra coisa a não ser sucessivas reuniões. Aflitos, os dirigentes não davam nem mesmo atenção para uma freirinha que insistia em ter uma reunião com um dos diretores. Qualquer um.

A freirinha não tomou aperitivo. Tomou chá de cadeira. De tanto insistir, enfim a madre teimosa foi recebida por um subalterno, quando ela revelou o milagre:

– “Frau” Underberg deixou o segredo das ervas com a congregação. E eu estou com a chave da sala, tenho a missão de preparar a fórmula.

Daquele dia em diante, toda semana a freirinha entrava na fábrica acompanhada com olhares de respeito. Humilde, nem reparava o tapete vermelho por onde entrava com a chave na mão, o segredo da Casa Underberg no coração.