Como prevenir o acidente vascular cerebral

Em abril, depois de uma semana sentindo dores intensas na cabeça, o tetracampeão mundial de futebol, Márcio Santos, de 38 anos, percebeu algum problema quando teve dificuldade em falar ao telefone. No mesmo mês, Maria Marlene Kindzierski, 49 anos, também sofreu um AVC, chegando ao hospital, apresentava impossibilidade de se comunicar e, hoje, leva uma vida normal. O AVC que se tornou mais conhecido no Brasil, o de Marielza de Souza Dantas, participante do programa Big Brother, também teve rápido atendimento e seqüelas mínimas. Em comum, estes casos, têm o atendimento imediato, socorro que propiciou um melhor prognóstico e maior chance de sobrevivência das vítimas.

?O meu caso prova que se não tivesse sido atendida com rapidez e recebido o tratamento adequado, eu ficaria em uma cama em estado vegetativo, ou até mesmo teria morrido?, declara Maria Kindzierski, que hoje leva uma vida normal. ?Não tenho mais a mesma força física, mas ninguém diz que sofri um derrame há um ano?, avalia. Mesmo que não seja hospitalizado imediatamente, o paciente deve ser encaminhado ao hospital o mais rápido possível, para receber tratamento apropriado. ?O diagnóstico realizado no hospital é fundamental na distinção do AVC de outras doenças igualmente graves e com sintomas semelhantes?, reconhece o médico Murilo Meneses, do Instituto de Neurologia de Curitiba.

Custos elevados

Apesar da leve queda registrada nos últimos anos, ainda é elevada a incidência da doença sobre a população brasileira. Em 2007, no Paraná foram mais de 11 mil internações em hospitais e pronto-socorros ligados ao Sistema Único de Saúde. Em todo o País, o número de internações passa de 168 mil.

Contrapondo-se à diminuição do número de casos, o Ministério da Saúde aponta que os custos com tratamento do AVC não pára de subir. Em 2007, as despesas com internações, em todo o Brasil, totalizaram mais de R$ 118 mihões, um aumento de 53% se comparado aos gastos dispensados em 2000, por exemplo. No Paraná, os gastos totalizaram cerca de R$ 8,2 mihões. Não é para menos, o ?derrame? é a principal causa de incapacidade funcional no mundo e de morte por causas cardiovasculares no Brasil.

Segundo a Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares, o AVC é responsável por 30% dos óbitos registrados no País. ?Especialmente em caso agudo, o derrame cerebral exige atendimento rápido para que as taxas de mortalidade caiam?, afirma Jairo Lins Borges, cardiologista do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, de São Paulo.

Acidente traiçoeiro

De acordo com o neurocirurgião Ricardo Munhoz da Rocha Guimarães, do Hospital Pilar, de Curitiba, o nome acidente vascular cerebral é bem apropriado: é reconhecido como um acidente por ser um acontecimento inesperado e que envolve sofrimento; é vascular, pois diz respeito aos vasos sangüíneos; e cerebral porque ataca as artérias que irrigam o cérebro. O médico avisa que o AVC é mais traiçoeiro do que qualquer doença cardíaca. ?Essas pessoas tiveram a sorte de serem atendida prontamente?, ressaltou o médico, realçando que quanto mais rápido for o atendimento mais chances de se controlar o distúrbio e, por conseqüência, minimizar as seqüelas que os coágulos possam provocar.

Entre os recentes avanços no tratamento do acidente vascular cerebral isquêmico foi o desenvolvimento de terapias capazes de dissolver o coágulo, como os trombolíticos, e restaurar o fluxo sangüíneo para o cérebro. Essas intervenções possuem maior eficácia quando desempenhadas até três horas após o início dos sintomas. O tratamento da hemorragia cerebral também é mais eficiente quando o paciente é atendido nas primeiras horas.

Exames de imagem, como a ultra-sonografia com Doppler ou a ressonância magnética, detectam tais obstruções, permitindo quantificar sua repercussão na circulação sangüínea e orientar a terapêutica a ser adotada, diz o radiologista Fábio Eduardo Fernandes da Silva.

Entenda o AVC

O acidente vascular cerebral decorre da insuficiência no fluxo sanguíneo em uma determinada área do cérebro. Essa falta ou restrição no fornecimento de sangue pode provocar lesão ou morte celular, além de danos nas funções neurológicas. Quando originado por obstrução de vasos sanguíneos, o AVC é classificado como isquêmico, quando é resultado por uma ruptura do vaso, caracteriza-se como hemorrágico.

O isquêmico é responsável por 80% dos casos de AVC.

Esse entupimento dos vasos cerebrais pode ocorrer devido a uma trombose (formação de placas em uma artéria principal do cérebro) ou embolia (quando um trombo ou uma placa de gordura originária de outra parte do corpo se solta e pela rede sanguínea chega aos vasos cerebrais).

O hemorrágico é o rompimento dos vasos sanguíneos que se dá, na maioria das vezes, no interior do cérebro, a denominada hemorragia intracerebral.

Em outros casos, ocorre a hemorragia subaracnóide, o sangramento entre o cérebro e a aracnóide (uma das membranas que compõe a meninge). Como conseqüência imediata, há o aumento da pressão intracraniana, que pode resultar em maior dificuldade para a chegada de sangue em outras áreas não afetadas e agravar a lesão. Esse subtipo de AVC é mais grave e tem altos índices de mortalidade.

Sintomas e sinais de alerta

Muitos sintomas são comuns aos acidentes vasculares isquêmicos e hemorrágicos, como dor de cabeça muito forte, sobretudo se acompanhada de vômitos, fraqueza ou dormência no corpo, geralmente afetando um dos lados do corpo, paralisia (dificuldade ou incapacidade de movimentação), perda súbita da fala ou dificuldade para se comunicar, perda da visão ou dificuldade para enxergar com um ou ambos os olhos.

Outros sintomas do AVC isquêmico são tontura, perda de equilíbrio ou de coordenação. Os ataques isquêmicos podem manifestar-se também com alterações na memória e da capacidade de planejar as atividades diárias, bem como a negligência. Neste caso, o paciente ignora objetos colocados no lado afetado, tendendo a desviar a atenção visual e auditiva para o lado normal, em detrimento do afetado.

Aos sintomas do acidente hemorrágico podem-se acrescer náuseas, vômito, confusão mental e, até mesmo, perda de consciência. Muitas vezes, tais acontecimentos são acompanhados por sonolência, alterações nos batimentos cardíacos e na freqüência respiratória e, eventualmente, convulsões.

Fatores de risco

A maioria dos fatores de risco para AVC são passíveis de intervenção, portanto é possível se fazer um tratamento preventivo: a chamada prevenção primária. Entre os fatores de risco que podem ser modificados destacam-se:

>> Hipertensão

>> Diabetes

>> Tabagismo

>> Consumo freqüente de álcool e drogas

>> Estresse

>> Colesterol elevado

>> Doenças cardiovasculares, sobretudo as que produzem arritmias

>> Sedentarismo

>> Doenças hematológicas

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